Qua, 15 de Setembro de 2010 13:59
Valdeck Almeida entrevista Carlos Ventura na Suiça
E o Menino Ganhou o Mundo e o Homem Segue os Seus Passos
Esta é a definiçao que concluímos, depois deste papo descontraído com o Compositor, Músico, Escritor, Dramaturgo e ativista cultural, Carlos Ventura, que nos concedeu entrevista direto da sua nova morada em Zurich-Suiça.
Ele nos revela os segredos do seu sucesso, sua mudança para Europa e muito mais. Veja entrevista completa abaixo:
Carlos Ventura (Div.)
Valdeck Almeida: Carlos Ventura, uma pergunta que não quer calar, qual a definiçao para esta mudança radical de vida, a que você atribui isso?
CV: Bem, defino esta mudança como algo que em algum lugar estava escrito. Nada é por acaso e atribuo como fruto de diversas coisas, trabalho, perseverança, busca pelo aprimoramento dos trabalhos, fé, amor.
Mas acima de tudo consequência de toda uma trajetória de vida, como pessoa, como artista e formador de opinião, tudo isso somado nos leva ou nos traz a este presente, que pode ou não ser transitório, de acordo com o que nós alicerçamos os nossos objetivos e conquistas, pois acredito que cada um tem o que merece, na medida certa. Não somos nós quem direcionamos o nosso destino e sim o conjunto de ações e energias que nos coloca nas direções. E nós somos responsáveis pelo rumo que tomamos.
Mudar, mudamos todos os dias. O problema é definir que tipo de mudança é que queremos para nós.
Acredito que devemos todos os dias, ao deitar, ter em mente como objetivo acordarmos melhores em todos os aspectos do que dormimos já que, na minha concepção, a evolução é fator primordial nesta existência.
Não acredito que uma pessoa, por mais difícil que seja, não termine a sua caminhada melhor do que começou.
Portanto, evoluir é o mote e isso é o que está acontecendo comigo e acontece com você e o mundo, Evoluçao.
Valdeck Almeida: Nesta sua Evolução, você sai do Brasil e parte para uma carreira internacional, além de mudar os hábitos, mudar de casa e de língua, neste novo desafio. Como você encara tudo isso, quais sao os grandes obstáculos a serem vencidos?
CV: Quero aqui deixar claro que quando me refiro a Evoluir, não digo que não evoluiria no Brasil ou em qualquer lugar. O que acontece é que as mudanças chegam em forma de oportunidades e atreladas a oportunidades. Existiu uma coisa muito importante para que eu tomasse a decisão de mudar, o Amor.
Se não fosse ele, ou melhor (Ela), esta mudança não aconteceria de forma tão radical.
Os desafios são muitos, os quais eu posso salientar como principais os aspectos culturais e a língua. Acredito que estes são os maiores desafios, pois temos que ter a concepção de que além de respeitoso e crucial, buscar entender e lidar com a língua é de fundamental importância se quisermos atingir os propósitos profissionais e de estreitamento nas relações, sejam elas quais forem; o segundo e tão importante são os aspectos culturais, temos que buscar conhecer estes aspectos de forma a poder entender como funciona o comportamento e a vida das pessoas e de uma sociedade, para que não cometamos erros de julgamentos e possamos ter uma convivência respeitosa e harmônica.
A nossa casa é onde está o nosso coração. Portanto, se meu coração aqui está e bem, esta é a minha casa.
Quanto à carreira internacional, antes de mudar para a Suíça, meus trabalhos já me precediam, tenho fãs em diversos países na Europa: Portugal, Itália, França, Suíça, Rússia, República Tcheca, Espanha Polônia etc.
Estes fãs mandam e-mails, opinam sobre o que escrevo, sobre o que componho e estar aqui é poder estar próximo deles e poder, a partir das oportunidades, fazer com que as coisas deem certo ou tentar direcionar para isso.
Portanto, a porta aqui já estava aberta. Faltava que eu entrasse, não virtualmente, como já havia entrado, apesar de algumas visitas para divulgar trabalhos, dar palestras etc.
Valdeck Almeida: Caminhos Abertos é o nome do seu Show e do seu novo Cd. Ao idealizar o nome deste projeto você já tinha a certeza de mudança, ou algo já sinalizava e por isso o nome (Caminhos Abertos)?
CV: Como já havia dito, nada é por acaso. Quando eu recebi o chamamento para pensar um projeto, foi algo que considero muito mais espiritual que artístico: pairava sobre mim uma névoa de incertezas sobre que caminho tomar, pois havia parado tudo para trabalhar como gestor público cultural, além das ações no sindicato dos Músicos Profissionais da Bahia (Sindimusicos-BA). Com a criação da União dos Artistas de Lauro de Freitas (UNIALF), a minha carreira ficou meio que deslocada, colocada em segundo plano. Continuava a escrever, mas algo estava incompleto e faltava muita coisa, as relações e as ações em busca de trabalhar de forma séria e ampla a cultura e arte pelas vias da gestão pública era uma luta difícil, pois os interesses políticos são muito maiores que a boa vontade e conhecimento técnico e de vida sobre o meio.
E isso começava a ficar claro a partir de ver que as coisas dentro do ambiente público que era menos público e mais politiqueiro do que se imagina.
Bem, as coisas estavam nebulosas e numa conversa com amigos, um deles depois viera a ser o Diretor Geral do Caminhos Abertos, Tonny Ferreira, eu disse que estava sentindo falta de algo e não sabia o que era na minha vida. Foi quando alguém falou que poderia ser falta da estrada de tocar etc. E me veio um estalo. Isso! Voltar a tocar. E um mês depois estava no palco do Centro de Cultura de Lauro de Freitas, fazendo a primeira das muitas apresentações do projeto, mas ainda sem definição sobre o que verdadeiramente seria. Já tinha o nome (Caminhos Abertos), mas não tinha um planejamento de ganhar a estrada de vez.
Fizemos o primeiro show, com canções do trabalho que tinha escrito em 2007, o CD “De todo o Coração”, mas isso me incomodava, pois algo novo necessariamente teria que ser novo. Tentei pelo menos fazer uma canção tema, mas nada vinha à cabeça.
Uma semana depois do show aconteceu algo interessante. Após um sonho, que naquele momento achei confuso e hoje tenho clareza que foi algo espiritual e que apontava para esta mudança, fui à casa do meu amigo, arranjador e diretor musical do projeto, o músico e compositor Rick Vieira e disse a ele: mano velho, quero te mostrar uma coisa. Peguei o violão e mostrei a canção Caminhos Abertos, que havia escrito de forma mágica e mística, após o sonho, e uma conversa com a minha agora Mulher, a Antropóloga, Mara Nüesheler.
Depois de tocar pra ele, fiz o convite para que nos ajudasse a trilhar o projeto Caminhos Abertos. Ele se comprometeu a nos ajudar e convidou o nosso mago da percussão, James D‘axé, que já havia trabalhado conosco no show e em outras oportunidades, que de pronto, como sempre maravilhoso, aceitou o convite, e lá estavam três figuras irmanadas em direcionar caminhos. E assim começou a trajetória do Show Caminhos Abertos.
Carlos Ventura (Div.)
Valdeck Almeida: Então você atribui à espiritualidade os Caminhos Abertos?
CV: Posso dizer que sim, pois se observarmos que espiritualidade não está ligada só aos espíritos ou coisas do além, e sim a tudo que nos cerca e tudo que fazemos, pois o amor, que o Apóstolo Paulo falava aos Coríntios era espiritualizado, era espiritualidade, e sem ele nada é possível. Assim como tinha que haver dedicação e Amor para que o projeto deixasse de ser um chamamento espiritual, para ser um caminho que iria me levar a ver coisas que eu não imaginava ver ou fazer.
Atribuir a algo mágico poderia soar como leviano, mas atribuo ao talento, aos dons e à energia que está contida em cada passo trilhado e cada canção escrita para o projeto e cada indivíduo a ele ligado, direta ou indiretamente.
Eu nunca, em minha vida, havia me dedicado tanto e de forma tão direta a um show, um CD, a compor, como neste projeto. Busquei me disciplinar, como músico, graças ao auxílio de Rick Vieira, James e Luciano Factum, que me cobravam muito isso e que surtiu um grande resultado em tudo que fizemos.
Busquei me concentrar em tudo que me era dito e colocado em prática pelo nosso Diretor de Palco, Tonny Ferreira.
Ou seja, isso era uma relação que passou a ser além de profissional uma sinergia que, queiram ou não enxergar, era espiritual.
As coisas nunca eram fáceis, cada apresentação era cercada de dificuldades. E quanto mais o dia do show se aproximava, as coisas ficavam mais difíceis e, de repente, apareciam pessoas que posso chamar de anjos, de lugares inimagináveis, amigos que há tempos não via, amigos de caminhada, como você, a turma do Fala Escritor: Renatinha, Leandro e outros novos que apareciam pelo caminho, que abriam portas que estavam lacradas e a coisa rolava. Os Caminhos se abriam.
Valdeck Almeida: Estive no primeiro show, em outubro de 2009, em Lauro de Freitas, no Show especial que você fez no projeto Fala Escritor, no Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador, e nos dois últimos da turnê, que foram no Teatro Gamboa. E o que vi foram quatro apresentações totalmente distintas, com dinâmicas diferentes e novos membros na banda. A que você atribui esta mudança na composição da equipe?
CV: Foi bom que você me fizesse esta pergunta, pois isso é importantíssimo comentar. O que você e muita gente que nos acompanhou nos shows lá na Bahia viram foi na prática o que falo de evolução. O que você viu em outubro foi um lampejo do que seria o ápice nos dias 06 e 13 de junho, no Gamboa:
Interação + dedicação + respeito + vontade de fazer dividido em um grupo de pessoas que teria, como resultado, Energia de Espiritual.
A saída do nosso querido Rick Vieira, para que pudesse ampliar seus caminhos, com seu trabalho com a Tribo do Sol, recebeu, tenho a certeza, a energia motivada pelo trabalho que ele já estava fazendo com a gente. Não vejo, como muitos me perguntaram, se era uma perda. No que diz respeito à ausência do companheiro, sim. Mas o que nos deixou feliz foi ver que os caminhos foram abertos para todos que lá estavam. E o Rick tinha agora o dele. A vinda do meu outro irmão, que foi meu perceiro no início de tudo, há mais de 25 anos, Luciano Factum, foi a prova de que as energias se renovam por si só, quando buscamos os mesmos objetivos. Além de comprovar que os elos que foram forjados para este trabalho, não foram elos comuns; foram elos forjados pela coragem de cada um de nós em enfrentar o desconhecido a cada show e empreitada, e, no final, ver críticas positivas.
O Rick já havia previamente avisado que, a qualquer momento, poderia pintar os projetos dele e que ficássemos atentos. Bem, a coisa foi tomando forma e corpo e, quando menos esperávamos, Rick teve que nos deixar. Eu fiquei desesperado, pois teríamos ainda shows a cumprir mas, como já falei, as coisas se modificavam como mágica, quando ficava nublado de um lado, o sol aparecia do outro.
Então, depois de mais de 20 anos sem estarmos juntos num palco, Luciano Factum, compoitor, músico, um dos melhores guitarristas do Brasil, aceita o convite para dirigir a parte musical e subir no palco e dividir comigo este trabalho. Para minha alegria e de muita gente que cobrava isso a cada um de nós há tempos, os dois juntos num mesmo palco.
Valdeck Almeida: Eu escutei alguns comentários sobre a dinâmica das apresentações no Gamboa, que era algo mais acelerado ou progressivo, em comparação ao que adotara nos outros shows. Você atribui isso à qualidade técnica dos músicos?
CV: Olha, o que eu não posso reclamar, graças a Deus, é sobre os músicos que me acompanham. Gente, se qualquer artista que se preze tiver 50% do que eu tive ao meu lado, terá uma boa equipe. Mas se tiver uma equipe como a que eu tive, terá um seleção de primeiríssima qualidade.
Para que você tenha uma ideia, eu tive, sem nenhum centavo, uma equipe que muitos grandes, que tem recursos não têm.
Tive de diretor de palco a cenógrafo, de designer gráfico para criação e confecção do material de divulgação e propaganda a uma competentíssima jovem produtora, ou seja, tive tudo. E isso surgiu a cada necessidade.
Quanto à dinâmica de palco, ela teve que mudar não por que Luciano é melhor que o Rick ou vice-versa, ambos são o que há de melhor na música, só que de escolas diferentes. Mas são músicos que quem os têm ao seu lado, tem ali a segurança de ter profissionais.
O que houve foi que, ao longo das apresentações, foram incluídas as novas canções, que foram escritas para o projeto, show e CD Caminhos Abertos. Então, com esta incorporação das novas músicas e por ter Luciano um trabalho comigo que tem uma pegada Rock, incluímos no repertório trabalhos que fizemos juntos. Aí o formato teve que mudar.
Valdeck Almeida: Você falou que escreveu as canções no decorrer do processo, como foi esta experiência?
CV: Ímpar. Como falei antes, neste projeto fiz coisas e vi coisas que nunca imaginei. Compor durante a correria foi algo que não imaginava e nunca passou pela minha cabeça. Está sendo uma experiência e tanto esta nova forma de trabalhar o processo criativo. E ver, a cada apresentação, a surpresa estampada no rosto dos músicos e a alegria do novo em cada sorriso e aplauso das pessoas que foram lá para ver o nosso trabalho é uma fantástica experiência que ainda não terminou. O pensamento inicial eram 10 músicas, mas agora serão 14 canções. Mas como eu não vou limitar inspiração escreverei quantas forem aparecendo. M mas para o CD, teremos 7+7. Temos, até agora, 9 prontas no ahow e 3 que estão saindo do forno.
Valdeck Almeida: Ventura, como estão as perspectivas na Europa para Caminhos Abertos. Já fez apresentações e como foi a receptividade?
CV: Bem, a receptividade foi e está sendo algo maravilhoso. A cada lugar é uma nova energia, uma nova surpresa. As perspectivas são as melhores possíveis. Sou um Homem de Fé, e acredito que estar aqui tem propósitos muito maiores que divulgar um trabalho ou fortalecer uma carreira internacional. Não sou pretensioso e sim alguém que observa os movimentos das coisas e do vento. Tento entender as folhas quando caem e nunca deixo de olhar o que se passa ao redor, o que se anuncia no horizonte.
Muito mais coisas estão por acontecer. O projeto aqui será levado para Alemanha, Áustria, França e Suíça, talvez leste europeu, ainda não confirmado, como Rússia, Polônia e República Theca. Tudo isso para este ano.
Mas estamos estudando e vendo os contatos para Portugal e Espanha, para 2011.
Valdeck Almeida: Projetos para o Brasil. Sei que você não é de ficar parado, você não para, pode nos adiantar algo?
CV: Por hora o que posso adiantar é que estamos trabalhando para direcionar projetos internacionais, com a UNIALF, para 2011, e o Sindmusicos. Contatos e agendamentos já foram feitos neste sentido. Falando em UNIALF, fizemos uma maravilhosa exposição no Aeroporto Internacional de Salvador, onde inauguramos um novo espaço para exposições e estamos com uma outra grande exposição na Bahia, num espaço maravilhoso, em Salvador, como prévia para a ExpoEuropa 2011, que é um projeto ambicioso que estamos trabalhando.
Quanto a nós, vamos terminar o nosso segundo romance e cinco livros que têm o título provisório de “O retorno”.
Dar minhas palestras, que já estão agendadas para 2011, sobre associativismo cultural e artístico e economia da cultura, alem de estudar. Irei estudar literatura e arte aqui.
Valdeck Almeida: Carlos, estamos felizes em saber que tudo caminha de vento em popa. Bater este papo com você é maravilhoso e enriquecedor e sei que as pessoas que gostam do seu trabalho ficarão felizes em ter noticias suas. Você tem algo a falar aos seus amigos e admiradores no Brasil?
CV: Eu queria, primeiramente, agradecer a você, por mais esta oportunidade e parabenizá-lo, por mais uma Bienal do Livro em São Paulo, onde tive no ano de 2007 a oportunidade de participar através do seu maravilhoso projeto Prêmio Valdeck Almeida de Jesus. Só me resta, de todo o coração, agradecer aos meus parceiros nesta caminhada: Rick, James, Tonni, Luizinho Sá, Luciano Factum, Priscila Sodré. Obrigado! Àqueles que acreditaram em nosso potencial e nos ajudou, Obrigado: Didi do Bandolin, Liz Hermann, Pingo da Bahia, Jad Venttura, Sérgio Passos, à Saxofonista Britânica Karen Asprey, que foram nossos convidados nos shows em Salvador, Obrigado! Ao meu amigo produtor Ativista Culural e Produtor, Antônio Terra (Nirô), Obrigado! À galera do Gamboa e dos outras casas onde nos apresentamos na Bahia e nas outras cidades, Obrigado! Ao meu querido Amigo, homem de imprensa e Televisão, Ruy Pontes (LFTV), Obrigado! À minha família a Maneca e Hélio, sempre sinto vocês, Obrigado! Meus Pais, Obrigado! Aos nossos Orixás e Guias Espirituais Obrigado!
Ao nosso bom Deus, Obrigado! E desejo Caminhos Abertos para todos. Que a luz esteja com vocês.