Eu sempre me intitulei poeta, desde que assisti um debate de escritores sobre a questão. Pesquisando mais encontrei essa premissa que me deu ainda mais ênfase para continuar usando o termo "poeta".
A língua e os seus usos nem sempre primam por explicações lógicas. No caso em apreço, eu diria que a explicação é sociológica, ou melhor, sociolingu[ü]ística.
Como a consulente refere, as gramáticas indicam, como feminino de poeta, poetisa, pelo que não há, do ponto de vista meramente gramatical, qualquer razão para se atribuir ao vocábulo poeta uma cara(c)terística que a gramática lhe não consagra, ou seja, a de ser uniforme quanto ao gé[ê]nero.
Todavia, algumas mulheres com veia poética reconhecida intitulam-se a si próprias poetas. Inclui-se nesse grupo Sophia de Mello Breyner Andresen, falecida no dia 2 de Julho de 2004. Para Sophia, poetisa não era verdadeiramente a forma feminina de poeta, pois atribuía às mulheres um estatuto de menoridade face aos homens com idêntica a(c)tividade. Se consultarmos os dicionários, nada há de explícito que confirme um sentido depreciativo associado à palavra poetisa. Vejamos no entanto o que se diz em cada um dos verbetes no dicionário da Academia:
Poeta […] Escritor cuja forma de expressão literária é o verso.
Poetisa […] Mulher que escreve poesia...
Poderá esta definição ser problemática? Não sei. O que é verdade é que neste Verão marcado pela perda de Sophia de Mello Breyner Andresen, talvez em sua homenagem, muitos jornalistas preferiram usar o termo poeta como uniforme. O que acontecerá a seguir? A sociedade e o uso ditarão se a palavra poetisa se perde ou se ganha sentidos diversos do que hoje lhe é, ainda, reconhecido.
O feminino de poeta sempre tinha sido poetisa; contudo, essa forma adquiriu uma conotação pejorativa, por lembrar aquele tipo de senhora que se veste espalhafatosamente e participa das reuniões dessas dezenas de "academias femininas de letras" que brotaram como flores silvestres por todo o território nacional na primeira metade do século XX. Na sua santa ingenuidade, ao criarem essas instituições femininas paralelas, estavam simplesmente reforçando a crença chauvinista de que as "verdadeiras" academias eram privilégio dos homens.
Por causa disso, alguns críticos e intelectuais, ao falar de alguém do quilate de uma Cecília Meirelles, por exemplo, começaram a dizer: "É uma grande poeta!". A moda pegou no meio literário e acadêmico: o vocábulo passou a ser usado por muitos como se fosse um comum de dois (aqueles substantivos como atleta, artista, estudante, jovem, etc., que têm uma só forma para os dois gêneros, mas se distinguem pelo artigo). Hoje, portanto, podemos escolher entre as duas formas de feminino: ou usamos poetisa, ou simplesmente poeta.
SU ANGELOTE POETANDO COM AS LETRAS De todas as farsas que me transformo prefiro a poetisa Que ama o desconhecido Acata o impossível E nunca teme o inevitável.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
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